quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Poema que meu pai declamava...

Duas Almas (Alceu Wamosy)

Ó tu, que vens de longe... Oh, tu que vens cansada,
Entra, sob este teto encontrarás abrigo.
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho

Vives sozinha sempre, e nunca foste amada!
A neve anda a branquear lividamente a estrada.
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra. Ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada...

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa.

Já não serei tão só; nem serás tão sozinha!
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha!...
---x---x---

Lindo poema, mas sempre que meu velho declamava estava ligeiramente sob o efeito de uma aguardente daquelas. À certa altura da vida, D.Silvia, minha mae, nao aguentava mais ouvir isso e certo dia, quando ele estava terminando a primeira "estrofe" (... e vivo tao sozinho.) Ela teve uma reaçao inacreditável. Porque nao era coisa que ela fizesse nem combinava com a Amélia que muitas vezes ela encarnava...a reaçao foi, olhando pra porta, onde nao se podia ver ninguem... bradou
"Entra, mas entra logo...entra e vem fazer comida pra ele... vem lavar a roupa dele e vem cuidar dele, porque eu já nao aguento mais !!!". Retirou-se entao e o silencio se fez. O Velho só foi retomar o verso muito tempo depois quando ja havia esquecido do ocorrido e quando lembravamos da reaçao dela ele dava uma boa gargalhada por entre o bigodao de leao marinho e dizia " ...magina.."

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