quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Estranho - Notas

Estranho setembro/2008

Inevitável e insuspeito são minhas qualidades que nunca tive. As tenho perante os outros; a morte me alivia, o desassossego me completa e me emudece como se fosse o que sempre espero sem nunca ter mirado nem pedido.
Distante de tudo observo a mim nas mais imperfeitas situações e um sentimento de desprezo pela comoção que me atinge, amplifica-se em oposição ao que eu mesmo sentia. Sinto ainda mas agora menos. Sinto tanto que deixo de sentir; torno possível o dessentir, como se morasse em outro, não mais em mim.
Quando vejo o reflexo da minha imagem nos vidros e espelhos demoro a entender que sou eu, porque não se parece comigo nem com o que pareço parecer para mim. Estou disfarçado em mim e para mim por isso desconheço quem sou de fato, desconheço o que posso e o que sinto, de fato. Sou eu normal sem reflexo mais eu anormal, conhecido por todos menos por mim.
Andamos os dois a dividir a mesma vida, a se entender mutuamente sem ao menos se conhecer. Só não suporto sua presença quando amo e eu não, quando odeio e eu aceito naturalmente. Talvez um dia tenhamos que nos enfrentar e decidir quem pode viver e quem deve morrer, mas adio esta data porque suspeito que inevitavelmente perderei algo de mim.



Alcy Paiva

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