sábado, 31 de janeiro de 2009

Editorial para o site da OEGSP Dez./08

QUANTO MENOS, MELHOR.
Vemos muitas entidades, algumas até com larga exposição na mídia, abordando sempre os mesmos temas: pobreza, carências, doenças, tristeza, discriminação, abandono, violência e atrocidades. À frente da TV ou ao receber a ligação de uma das inúmeras campanhas de telemarketing, as pessoas já identificam automaticamente: é uma associação filantrópica. A resposta também já está na ponta da língua: “não, já ajudo outra associação... já fiz uma doação este mês...”
Estão erradas as pessoas que respondem assim a um apelo, por vezes, um ultimo grito de socorro? Não, claro que não. Para falar do péssimo e semear a tristeza e a decepção já temos centenas de noticiários de meia tigela invadindo os lares de todos. Ninguém precisa de mais.
A pergunta que coloco é simples: Pretendemos mudar o mundo desta forma?
Se acreditarmos que massacrando as pessoas com “mais do mesmo”, que chocando-as com casos horrendos, violência sexual contra crianças, famílias famintas e sedentas sem nenhuma possibilidade frente as circunstancias ou ao ambiente no qual estão inseridas, com moradores de rua órfãos dos mais elementares direitos, com idosos sem família, com crianças sem pais, com adultos sem emprego ou educação, com imagens de um país sem governo, com a omissão e o descaso do poder publico que covardemente fecha os olhos aos desvalidos enquanto a corrupção grassa feito erva daninha em seu seio, então estamos muito bem obrigado!! Em todos os momentos vamos falar disso, reclamar de como as coisas estão, inclusive durante o trabalho, na faculdade e nos finais de semana, porque se o mundo ainda não mudou, é só uma questão de tempo... mais alguns dias e viveremos numa sociedade justa e solidária.
O bom senso aponta em direção contrária e é preciso que reconheçamos que a grande maioria das pessoas, bem como das associações beneficientes, trabalha com foco nos efeitos, não nas causas e que isso não é prerrogativa destes, é o modus operandi de quase todos os organismos e governos. Imaginem se, após um esforço concentrado, se chegasse a erradicar a pobreza, as epidemias e as violações aos direitos humanos em não mais do que trinta anos. Era o mesmo que dar adeus às verbas, aos empregos pendurados na conta social e à superestrutura dos órgãos públicos que são generosamente cobertos pelos pobres contribuintes.
Se não pensarmos em como podemos executar nossas ações, de maneira organizada, para à médio prazo ver sumir a carência e o abandono, não chegaremos nunca a lugar algum, seja na nossa casa, na nossa rua, na nossa cidade ou no nosso país. Nós, atores sociais do chamado Terceiro Setor temos que idealizar o dia em que não teremos mais para quem oferecer nossos benefícios, sob pena de engordarmos a massa de servidores do clientelismo, das Centrais e Serviços que fazem projetos para inglês ver bancados pelo governo e em cujas estruturas a sociedade civil não tem poder para intervir nem provocar mudanças; tudo vem de cima, até os defeitos.
Voltando à nossa questão, sabemos por experiência própria que tudo de desagradável e que embrulha o estomago nos apelos sociais, com raríssimas exceções, sintetizam a mais pura verdade do que acontece nos subterrâneos da sociedade, contudo ensejo fazer um convite: Fazer um mundo melhor, tendo ações e falando de como podemos ter essa Terra dos Sonhos, esse mundo ideal e, mais do que isso, de como podemos plantar hoje as árvores que darão seus frutos para as gerações que já estão ai e que trazem em seu lastro inumeráveis outras, que poderão vir sempre com mais condições reais de serem felizes.
Somos milhões de pessoas trabalhando no Terceiro Setor em todo o planeta. Multipliquemos por quatro este numero e englobaremos os milhares de pessoas anônimas que em suas vidas defendem os mesmos valores que nós e tomam iniciativas muito objetivas para melhorar o mundo. Se este contingente assumir publicamente que pretende ser exemplo deste cidadão renovado, não precisaremos de muitas campanhas de conscientização. Vale mais uma ação do que um ponto de vista pois este último irá somar-se a outros milhares e irá perder-se no infinito das idéias.
Assumamos de fato o lugar que é nosso por direito e chamemos para nós a responsabilidade de sermos multiplicadores do mundo ideal onde valores como o mais e o menos serão abolidos dos temas sociais, porque não existe amor pequeno e amor maior, pouca solidariedade ou muita fraternidade. Só assim os valores universais dos homens de boa vontade poderão ser o fiel da balança.
Infelizmente neste final de ano vemos de novo os holofotes voltados para os homens que se arvoram “dirigentes da política e da economia global” que de seus escritórios refrigerados, falando de desenvolvimento sustentável e capitalismo social, reduzem o crédito e o consumo às custas do desemprego, da falência de muitos empresários e do empobrecimento da população, sob o pretexto de refrear a inflação que eles criam artificialmente ou com seus desmandos. Vemos o G8, o G20, os Bric´s e mais uma infinidade de seres sob alguma alcunha alfanumérica, achando que podem resolver problemas com as velhas receitas que nunca funcionaram. Os governos conseguem linhas de crédito, liberam volumosas remessas de dinheiro às instituições financeiras e estas repassam por 20 o que pagarão 2, à economia real, como passamos à ser conhecidos por trabalharmos, plantarmos, comprarmos e comermos. Eles vão dormir em paz, mas aqui embaixo nada disso chega nem provoca qualquer efeito benéfico, muito antes pelo contrário.
Por isso, sem almejar nenhuma autoria pois que este projeto é de todas as pessoas de bom coração, vamos mudar o mundo e mostrar como se faz o que aqueles senhores nem imaginam, e para tanto não precisaremos ter atitudes de desapego extremas como Gandhi, bastam simples atitudes no dia-a-dia. Se ninguém no transito respeita o direito alheio, vamos respeitar, vamos parar na faixa de pedestres independente do que pensam os outros, vamos permitir que aqueles que demonstram estar com mais pressa, nos ultrapassem. Vamos ver uma família à beira da estrada e oferecer ajuda e assim em todas as coisas que envolvem nossas vidas, independente de crenças religiosas. Vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para eliminar as incoerências da vida que levamos em relação a vida que gostaríamos que todos levassem. Vamos entender claramente que quando, mesmo sem desejar, obtemos uma vantagem qualquer sobre os demais, estamos ultrapassando o nosso direito e isso, multiplicado exponencialmente, se transforma no pesadelo de degradação humana que nós mesmos vivemos e sentimos hoje. Aquela abordagem histórica de que nossos netos não terão “um mundo para chamar de seu” já está ha muito ultrapassada: somos nós mesmos que colhemos o mal estar que plantamos o que significa dizer que somos a própria causa deste estado de coisas que nos desagrada tanto. Se atacarmos nossos costumes evitaremos os efeitos e poderemos experimentar do sabor de sermos integralmente realizados. Se os nossos netos, receberem um mundo melhor é sinal que nós e nossos filhos fizemos a lição de casa, mas caberá a eles fazerem a parte deles, ou por tudo à perder, afinal cada um é livre para escolher a vida deseja ter. Essa sempre foi a base das relações sociais.
Deixemos aos políticos de plantão falar das mazelas dos governantes que pretendem substituir e com os quais jantarão uma semana após o pleito pois eles mesmos verão suas platéias minguando e seus argumentos sendo sepultados com os esqueletos do velho mundo, arquétipos formados inclusive pela grande mídia. Até lá que esta última continue emitindo mais sinais digitais de malevolência e deboche frente a tristeza humana, alternando piada, esporte e desprezo, afinal é um direito deles, porem nossos receptores estarão sintonizados no que exalta a realidade tangível, porque esse é o nosso direito. Se os índices de audiência continuarem a ser medidos da forma como são, querendo nos empurrar goela abaixo a mentira que diz que na média somos todos ignorantes e insensíveis, que o façam. Da nossa parte nem tomaremos conhecimento deles.
Todos querem viver melhor, então paremos de resmungar e façamos coisas positivas. É certo que as entidades assistenciais sérias precisam sobreviver com a ajuda de um batalhão de pessoas, mas que sejam dirigidas sob esse enfoque. Estou certo de que nossos asilos se encherão de pessoas sensíveis para ouvir nossos idosos falarem de suas experiências, nossas creches e abrigos se tornarão centros de alegria que a todos contagiaria. À porta de nossas clinicas, hospitais, escolas e mais um sem numero de unidades acorrerão empresas e organismos que desejarão participar desta lufada de ar novo, de luz e solidariedade!
Em pouco tempo, estas ações alcançarão governos e políticos e nós nos prepararemos para ir diminuindo o nosso tamanho, até desaparecermos por completo, afinal de contas a Terra dos Sonhos não precisará de nós pois terá educação, justiça, fraternidade e amor. Será chegada a época em que todas as pessoas, em todos os âmbitos de suas relações, serão conscienciosas, aptas e felizes. Ninguém mais precisará lembrar ou exigir o seu direito, muito menos o direito publico que o precede. A justiça na acepção maior do vernáculo dirigirá a todos e liderará os povos multiplicadores do bom senso.
Precisamos pensar em como ocuparemos nosso tempo quando isso acontecer, ou talvez saibamos já hoje, afinal doamos nosso tempo, dedicação e profissionalismo e não ganhamos nem um centavo por isso pois sempre vimos que a satisfação dos nossos beneficiários é o melhor pagamento.
Alguns dirão que Alice, ou mesmo o gato do país das maravilhas se sairia melhor, outros nos chamarão de inocentes, idealistas, utópicos, Zaratrustas tardios, mas nada disso nos importa, como nunca nos importou, porque como diz o mascote da nossa entidade: “Sempre vale a pena lutar por ideais nobres e verdadeiros. Pode ser sonho para muitos, mas é realidade para nós!!!” e nenhuma mudança significativa jamais ocorreu no mundo sem uma dose extrema de idealismo e coragem. Viva a Terra dos Sonhos !!!

Um abraço fraternal a todos
Alcy Paiva

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Poema que meu pai declamava...

Duas Almas (Alceu Wamosy)

Ó tu, que vens de longe... Oh, tu que vens cansada,
Entra, sob este teto encontrarás abrigo.
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho

Vives sozinha sempre, e nunca foste amada!
A neve anda a branquear lividamente a estrada.
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra. Ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada...

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa.

Já não serei tão só; nem serás tão sozinha!
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha!...
---x---x---

Lindo poema, mas sempre que meu velho declamava estava ligeiramente sob o efeito de uma aguardente daquelas. À certa altura da vida, D.Silvia, minha mae, nao aguentava mais ouvir isso e certo dia, quando ele estava terminando a primeira "estrofe" (... e vivo tao sozinho.) Ela teve uma reaçao inacreditável. Porque nao era coisa que ela fizesse nem combinava com a Amélia que muitas vezes ela encarnava...a reaçao foi, olhando pra porta, onde nao se podia ver ninguem... bradou
"Entra, mas entra logo...entra e vem fazer comida pra ele... vem lavar a roupa dele e vem cuidar dele, porque eu já nao aguento mais !!!". Retirou-se entao e o silencio se fez. O Velho só foi retomar o verso muito tempo depois quando ja havia esquecido do ocorrido e quando lembravamos da reaçao dela ele dava uma boa gargalhada por entre o bigodao de leao marinho e dizia " ...magina.."

domingo, 25 de janeiro de 2009

Unimultiplicidade “Onde cada homem é sozinho, a casa da humanidade”- Tom Zé / Ana Carolina

Olha que texto !!! Dispensa maiores comentários.

Só de Sacanagem

Meu coração está aos pulos
Quantas vezes a minha esperança será posta à prova
Tudo isto que está ai no ar: malas, cuecas, que voam entupidas de dinheiro
Do meu dinheiro, do nosso dinheiro,
Que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós
Para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais,

Este dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz
Mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz

Meu coração está no escuro
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: Não roubarás.
Devolva o lápis do coleguinha; Esse apontador não é seu minha filha.

Pois bem, se mexeram comigo...
Com a velha e fiel fé do meu povo sofrido...
Então agora eu vou sacanear: mais honesto ainda eu vou ficar
Só de sacanagem
Dirão: deixa de ser bobo, desde Cabral que aqui todo mundo rouba!!
Vou dizer: Não importa, será este o meu carnaval.
Vou confiar, mais e outra vez;
Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos;
Vamos pagar limpo a quem a gente deve
E receber limpo do nosso freguês

Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escanbal
Dirão: É inútil, todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal...
E eu direi: Não admito, minha esperança é imortal!! e eu repito... imortal!! ouviram?!
Sei que não dá para mudar o começo, mas se a gente quiser, vai dar para mudar final.

Flor de Maracujá - Foto do Sergio Paiva


Fala sério !!! Isso sim é uma foto profissional, jamais havia visto coisa igual !!! Natureza e Observador em perfeita sintonia. Parabens meu Velho, nao é a toa que suas fotos correm o mundo e recebem tantos elogios, inclusive peguei esta no site portugues http://olhares.aeiou.pt/galerias/detalhe_foto.php?id=2397557
Parabens Mano. !!!


sábado, 24 de janeiro de 2009

Algumas Fotos Minhas

Antes que os fotografos profissionais reclamem... sou iniciante... entao manerem.








Pena que nao sou tao bom quanto gostaria, mas que esta foto é de uma formiga que morreu sentada..isso é...rs





















E este sapito?...isso é que é aerodinamica... ninguem supera a natureza das coisas naturais. Vai ver que a Porche tirou dai o design magico deles...

E depois chamam de "natureza morta"...só de olhar sinto o sabor delas...rs

Pois é...registrado está...nao sou bom fotografo mas ainda que limitado, nao me acostumo com a idéia de nao tentar.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Estranho Ser - Poesia

Estranho Ser Dezembro/2008

Me ausentara do lápis e do caderno,
Abandonara o teclado falso
Me deixara à meio caminho de lugar algum.
Ser quem se é cansa,
Pensar quem se pensa poder pensar, é ruim.

Dois meses entregue.
Sem viver, sem sonhar.
O lápis sem ponta,
A única tecla, Del
Lata de lixo esquisita
Como em mim,
Nunca vão embora pra sempre.

Um vento quente soprou por entre os bambus
E um silvo triste se pode ouvir.
Era dia de morrer, dia de aceitar.

Acordo letárgico do pesadelo
Acendem-se luzinhas à piscar
Setas que mostram o caminho, curvam-se
Estradas longas, encurtam-se
Ar bucólico e assobradado
Coisas que não vivi mas talvez devesse

Imediato o medo
Quase reconhecido, parte de uma parte que não é mais
Os passos passam como em nuvens
Vontade de não ouvir, pânico de não saber
Empurram na direção do incerto.

Um rosto conhecido, depois dois e outros tantos
Um abraço amigo
Um lugar onde reconhecem-me.
Desejo saber quem sou,
Desejo deixar de não ser

Deus impotente e covarde
Arvora-se dono do poder
Faz instantâneo, do desejo, real,
Solidão, dia de sol.
Param rios, volvem-se cascatas.

Estranho ser.
Num momento nada, no outro viver.
Agora é saudade,
Agora desejo,
Não mais de morrer.

Por um dia mais ou dois,
Por um pouco de sonho a dois.
Por uma vida dentre tantas.
Saber que não custa, entender que não força,
Sentir que sempre esteve sem nunca ter estado.

Aponto o lápis e aperto as teclas,
Outras coisas pra dizer,
As mesmas de sempre.
Vontade de escrever.

Vida estranha,
Estranho ser.



Alcy Paiva

Melhor Morrer - Poesia

Melhor morrer Setembro/08

Existe um atrativo que se busca
Ou que nos busca ou nem busca
Está parada e nós altivos
Não vemos nem tampouco a achamos

Passados varias vezes na maquina de moer
Temperados e destemperados
Ao molho ou secos, disparates ambulantes
Céleres espalhando nossas crinas ao vento

É que temos coisas que nos esperam
Coisas que esperamos e coisas que não são
Coisa nenhuma em nós e por nós
Daí corremos, daí saltamos, daí quebramos a perna

E na cama como antena que capta satélites esquecidos
Morremos parados, incomodados, irritantes horas
Sono que não passa, coisa desagradável em nós
Que nunca deixamos a vida passar, só a passamos
Por baixo, pela direita, como der

E ela parada
Seus cálidos braços em nossa volta
Seu bafo quente e lento em nossa cara
Sua coisa que estranho não vive
E vive tanto que está ali

E ela parada
Se durar, um dia a sentimos dentro de nós
O coração a parar, o ar a parar
A cabeça parada, o sonho parado, o sono.
Abanamos rápido balançamos nossa cabeleira
Num momento de pé, pálido espanto

E ela parada
Nunca mais encarando-a como assassino
Nunca mais
Paz não... nunca...
Melhor moer de novo, temperar mais
Melhor morrer
Parado não.

Alcy Paiva

Quando eu for rei - Poesia

Quando eu for rei setembro/2008

Meu reino será como Pasargada de Manuel,
Menos talvez machista, darei alguns direitos à mulher
Menos o de deixar de ser mais sensível que o homem,
Menos o de abortar sonhos lânguidos ao ruído baixinho de riacho,
Menos o de não querer amar e muito menos o de querer amar um,

Será como a mansarda de Pessoa, os sertões de Euclides
Sensível, imprevisível, aceitável.
Terá trens em todas as direções,
Trens noturnos de viajantes esperançosos,
Whiskie com guaraná, porções de bolinhos de carne seca do Valadares,
Garçons espertos como o Baixinho ou o Mane, leitores de cartões wireless
Varanda nos vagões, demoras que passam por estações,
Homens distintos de sonhos impossíveis, madrugada até o meio dia

Vendedores de brincos e bijuterias, versos recitados à mesa,
Banheiros limpos e remédio para taquicardia,
Estações bucólicas entre montanhas,
Táxis sempre prontos, motoristas discretos,
Casinhas com lareira na colina,
Hotéis sem mofo nem cheiro,
Mariatis que dispensam propina

Policia holandesa, permissividade francesa,
Safadeza brasileira, discrição húngara, beleza russa.
Saias só justas e acima do joelho,
Vestidos só hippies e espaçosos com bordados indianos,
Ternos só italianos, sapatos alemães.

Coxas grossas e punhos de aço nas mulheres,
Morenas, mamelucas, índias, brancas, rosadas e muticor.
Peito largo e braços fortes nos homens,
Corados, barbeados, rastafari, o que quiser.

Hino nacional do Raul cantado por Caetano e Ana
Doze bandeiras, uma por mês no mastro,
Doze religiões, todas de uma vez
Nenhum ministro, muitos amigos.

Restaurantes com estacionamento gratuito,
Comida aprazível de todos os matizes,
Bolsa artista para quem a fizer ou mostrar
Camburões só de cevada, gelo a vontade.
Fusca pra todo mundo.
Um só imóvel por pessoa,
Bancos que imprimem quanto se precisar – sem gerentes nem filas.

Inexiste o aluguel e as empresas de cobrança,
Inexiste pobreza e vingança.
Inexiste roubo e arrogância.
Fica extinta dor sem remédio e morte sem sono.

Policiais serão policiais,
Bandidos, bandidos,
Amantes, amantes,
Ficará extinto o direito a duvida, o ônus da prova
O casamento

Banheiras e espuma em todas as casas,
Imposto por tristeza compulsória,
Pelo menos cinco amigos do peito para cada peito
Pelo menos cinco semanas de férias alem das férias
Só se trabalhará por prazer,
Sabão, azeite, feijão com carne seca e macarrão com molho para todos.

Quando for rei a frota real ficará a disposição
Porque pelo menos uma vez na vida
Se deve acelerar o V8 presidencial,
Levar os amigos na limusine papal,
Namorar no Jaguar imperial,
Voar na mansão alada real.

Quando for rei, meu reino será Avalon
Sem brumas nem guerras,
Cálices para conhaque, taças para vinho e copos para o resto
Fica extinto o assedio, a solidão e os distúrbios mentais.
Ficam extintas as viagens do rei a outros reinos,
As bermudas para as mulheres e os shorts para homens.

Fica abolido o self-service e a indolência
Batom, rouge, pintura de cabelo, meia fina,
Torresmo com farofa grossa e gordura de porco,
Plástica e combustível por conta da casa.

Crianças até quando quiserem,
Peixes nos rios, água potável, limpeza austríaca
Fica abolido o fósforo e a pólvora,
Fica banido o ciúme doentio.
Fica permitido o ócio

Quando eu for rei,
Esta será a lei; as outras revogadas
E ponto.
Está pronto.

Alcy Paiva

Estranho - Notas

Estranho setembro/2008

Inevitável e insuspeito são minhas qualidades que nunca tive. As tenho perante os outros; a morte me alivia, o desassossego me completa e me emudece como se fosse o que sempre espero sem nunca ter mirado nem pedido.
Distante de tudo observo a mim nas mais imperfeitas situações e um sentimento de desprezo pela comoção que me atinge, amplifica-se em oposição ao que eu mesmo sentia. Sinto ainda mas agora menos. Sinto tanto que deixo de sentir; torno possível o dessentir, como se morasse em outro, não mais em mim.
Quando vejo o reflexo da minha imagem nos vidros e espelhos demoro a entender que sou eu, porque não se parece comigo nem com o que pareço parecer para mim. Estou disfarçado em mim e para mim por isso desconheço quem sou de fato, desconheço o que posso e o que sinto, de fato. Sou eu normal sem reflexo mais eu anormal, conhecido por todos menos por mim.
Andamos os dois a dividir a mesma vida, a se entender mutuamente sem ao menos se conhecer. Só não suporto sua presença quando amo e eu não, quando odeio e eu aceito naturalmente. Talvez um dia tenhamos que nos enfrentar e decidir quem pode viver e quem deve morrer, mas adio esta data porque suspeito que inevitavelmente perderei algo de mim.



Alcy Paiva

Tempos de Rio - Poesia

Tempos de rio setembro/2008

Houve sim, tempo de ser vencedor,
Tempo de se guardar,
Tempo de se ofertar e delirar,
Não há mais,
Só deixar, só correr, só se misturar

Som de mata, rio
Som de rio, a própria mata
O próprio rio, mata
Misturar, esquecer
Apego não ter,
Só correr, murmurar,
silenciar.

Alcy Paiva

Legionários - Poesia

Legionários Setembro/2008

Quem dera participasse de bandos,
Quem dera minha dor fosse de outros
Fosse de quem fosse, mesmo minha
Que não fosse solitária
Indescritível
Que partilhasse, que transpassasse, que buscasse
Com mil versos e mil formas
Num dia lendo por ler qualquer coisa
Veria ali espelhada ela
E saberia como me livrar
Por outros minhas mãos saberiam o que pegar,
Por outros saberia quem matar
Que a mim mesmo fosse mas que matar
Fosse mais que morrer
Fosse também libertar o bando que me acompanha
Seria mais honroso, feito filme, feito prosa
Minha vida pela deles mesmo que só fosse
Dar por algo a mais do que por mim.


Alcy Paiva

Vontade de nao querer - poesia

Vontade de não querer Agosto/2008

O brado, o forte, o retumbante,
Ouço ao longe cantar e me pergunto

Só silencio e a musica a tocar,
Só vazio sem nada
De retumbante o coração
Que ousa desafiar o silencio

Querer nada, por nada,
Não, por nada,
Só por não querer, só
Murchar feito rosa, sem respirar
Ausentar-se sem querer ir nem estar.
Morrer sem querer nem desejar
Só morrer


Alcy Paiva

Outros - Poesia

Outros Agosto/2008

Certas coisas certas me acertam como a um alvo
Certas coisas erradas que não me erram
Certas incertezas egoístas que insistem em serem certezas
Certas serenidades e resoluções que não são mais
Só serenidades e resoluções que são para outros

Erradas palavras que insistem em ser erradas
Erradas atitudes que são mesmo erradas
Errados sentimentos, mas sentimentos assim mesmo
Só sentimentos que são pelos outros

Pesares que não me abandonam
Pesares que permitem tudo de pesares
Pesares que impedem e atropelam
Pesares que ancoras tem como se barcos fossem
Só pesar que são por outros

Ardil enredado nos pensamentos
Vida suspensa sem trocar passos
Sem trocar coisas, palavras, atitudes e sentimentos
Só abandono, permissividade, impedimento e ancora
Só por quem são outros em mim.



Alcy Paiva

Morte - Poesia

Morte Agosto/2008

Haverão dias intermináveis
Dias com tudo de noite
De noite sem fim em que nada traz paz
Nada traz sono nem descanso
Noites de devaneios, de cruz e auto-piedade

Haverão noites como dias tristes
Dias de enterro, de velório de amigo querido
De cheiro de crisântemo, rosa velha, coroas encostadas
Falta absoluta, ausência de ar para respirar,
Ausência do o que faz sentido
Ou fez e não faz mais, mas por isso mesmo faz, como sempre fez

Haverão anos de luto fechado, de viuvez opaca.
De circunspecção e abandono
De folhas no chão, árvores esqueléticas
Outono de vida que não passa nunca
Que não vê nem ouve, nem pressente...

E num desses dias noites outonais e sem brilho
Morrer de uma morte doída
De uma morte inesperada, daquelas que espantam e arrebatam
De uma morte digna de um louco
Que se abandonou da lógica das coisas insensatas
De uma falta de razão impar que pretende
Em sua arrogância e pretensão, ser mais que vida, mais que ser

Mais que sombra
Vulto que transpassa sem respeito
Sem consideração pelo mundo razoável
Que anseia por não perder o próprio vazio.
Morte, mesmo em vida, sem motivo, sem sentido.

Alcy Paiva

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sejam bem vindos meus amigos

Oi pessoal,
Criei este blog para trocarmos idéias, poesias, imagens e contar muitas histórias. Espero que voces me ajude a construir um lugar legal onde possamos fazer amigos e expor o que pensamos e tambem o que escrevemos