sábado, 31 de janeiro de 2009

Editorial para o site da OEGSP Dez./08

QUANTO MENOS, MELHOR.
Vemos muitas entidades, algumas até com larga exposição na mídia, abordando sempre os mesmos temas: pobreza, carências, doenças, tristeza, discriminação, abandono, violência e atrocidades. À frente da TV ou ao receber a ligação de uma das inúmeras campanhas de telemarketing, as pessoas já identificam automaticamente: é uma associação filantrópica. A resposta também já está na ponta da língua: “não, já ajudo outra associação... já fiz uma doação este mês...”
Estão erradas as pessoas que respondem assim a um apelo, por vezes, um ultimo grito de socorro? Não, claro que não. Para falar do péssimo e semear a tristeza e a decepção já temos centenas de noticiários de meia tigela invadindo os lares de todos. Ninguém precisa de mais.
A pergunta que coloco é simples: Pretendemos mudar o mundo desta forma?
Se acreditarmos que massacrando as pessoas com “mais do mesmo”, que chocando-as com casos horrendos, violência sexual contra crianças, famílias famintas e sedentas sem nenhuma possibilidade frente as circunstancias ou ao ambiente no qual estão inseridas, com moradores de rua órfãos dos mais elementares direitos, com idosos sem família, com crianças sem pais, com adultos sem emprego ou educação, com imagens de um país sem governo, com a omissão e o descaso do poder publico que covardemente fecha os olhos aos desvalidos enquanto a corrupção grassa feito erva daninha em seu seio, então estamos muito bem obrigado!! Em todos os momentos vamos falar disso, reclamar de como as coisas estão, inclusive durante o trabalho, na faculdade e nos finais de semana, porque se o mundo ainda não mudou, é só uma questão de tempo... mais alguns dias e viveremos numa sociedade justa e solidária.
O bom senso aponta em direção contrária e é preciso que reconheçamos que a grande maioria das pessoas, bem como das associações beneficientes, trabalha com foco nos efeitos, não nas causas e que isso não é prerrogativa destes, é o modus operandi de quase todos os organismos e governos. Imaginem se, após um esforço concentrado, se chegasse a erradicar a pobreza, as epidemias e as violações aos direitos humanos em não mais do que trinta anos. Era o mesmo que dar adeus às verbas, aos empregos pendurados na conta social e à superestrutura dos órgãos públicos que são generosamente cobertos pelos pobres contribuintes.
Se não pensarmos em como podemos executar nossas ações, de maneira organizada, para à médio prazo ver sumir a carência e o abandono, não chegaremos nunca a lugar algum, seja na nossa casa, na nossa rua, na nossa cidade ou no nosso país. Nós, atores sociais do chamado Terceiro Setor temos que idealizar o dia em que não teremos mais para quem oferecer nossos benefícios, sob pena de engordarmos a massa de servidores do clientelismo, das Centrais e Serviços que fazem projetos para inglês ver bancados pelo governo e em cujas estruturas a sociedade civil não tem poder para intervir nem provocar mudanças; tudo vem de cima, até os defeitos.
Voltando à nossa questão, sabemos por experiência própria que tudo de desagradável e que embrulha o estomago nos apelos sociais, com raríssimas exceções, sintetizam a mais pura verdade do que acontece nos subterrâneos da sociedade, contudo ensejo fazer um convite: Fazer um mundo melhor, tendo ações e falando de como podemos ter essa Terra dos Sonhos, esse mundo ideal e, mais do que isso, de como podemos plantar hoje as árvores que darão seus frutos para as gerações que já estão ai e que trazem em seu lastro inumeráveis outras, que poderão vir sempre com mais condições reais de serem felizes.
Somos milhões de pessoas trabalhando no Terceiro Setor em todo o planeta. Multipliquemos por quatro este numero e englobaremos os milhares de pessoas anônimas que em suas vidas defendem os mesmos valores que nós e tomam iniciativas muito objetivas para melhorar o mundo. Se este contingente assumir publicamente que pretende ser exemplo deste cidadão renovado, não precisaremos de muitas campanhas de conscientização. Vale mais uma ação do que um ponto de vista pois este último irá somar-se a outros milhares e irá perder-se no infinito das idéias.
Assumamos de fato o lugar que é nosso por direito e chamemos para nós a responsabilidade de sermos multiplicadores do mundo ideal onde valores como o mais e o menos serão abolidos dos temas sociais, porque não existe amor pequeno e amor maior, pouca solidariedade ou muita fraternidade. Só assim os valores universais dos homens de boa vontade poderão ser o fiel da balança.
Infelizmente neste final de ano vemos de novo os holofotes voltados para os homens que se arvoram “dirigentes da política e da economia global” que de seus escritórios refrigerados, falando de desenvolvimento sustentável e capitalismo social, reduzem o crédito e o consumo às custas do desemprego, da falência de muitos empresários e do empobrecimento da população, sob o pretexto de refrear a inflação que eles criam artificialmente ou com seus desmandos. Vemos o G8, o G20, os Bric´s e mais uma infinidade de seres sob alguma alcunha alfanumérica, achando que podem resolver problemas com as velhas receitas que nunca funcionaram. Os governos conseguem linhas de crédito, liberam volumosas remessas de dinheiro às instituições financeiras e estas repassam por 20 o que pagarão 2, à economia real, como passamos à ser conhecidos por trabalharmos, plantarmos, comprarmos e comermos. Eles vão dormir em paz, mas aqui embaixo nada disso chega nem provoca qualquer efeito benéfico, muito antes pelo contrário.
Por isso, sem almejar nenhuma autoria pois que este projeto é de todas as pessoas de bom coração, vamos mudar o mundo e mostrar como se faz o que aqueles senhores nem imaginam, e para tanto não precisaremos ter atitudes de desapego extremas como Gandhi, bastam simples atitudes no dia-a-dia. Se ninguém no transito respeita o direito alheio, vamos respeitar, vamos parar na faixa de pedestres independente do que pensam os outros, vamos permitir que aqueles que demonstram estar com mais pressa, nos ultrapassem. Vamos ver uma família à beira da estrada e oferecer ajuda e assim em todas as coisas que envolvem nossas vidas, independente de crenças religiosas. Vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para eliminar as incoerências da vida que levamos em relação a vida que gostaríamos que todos levassem. Vamos entender claramente que quando, mesmo sem desejar, obtemos uma vantagem qualquer sobre os demais, estamos ultrapassando o nosso direito e isso, multiplicado exponencialmente, se transforma no pesadelo de degradação humana que nós mesmos vivemos e sentimos hoje. Aquela abordagem histórica de que nossos netos não terão “um mundo para chamar de seu” já está ha muito ultrapassada: somos nós mesmos que colhemos o mal estar que plantamos o que significa dizer que somos a própria causa deste estado de coisas que nos desagrada tanto. Se atacarmos nossos costumes evitaremos os efeitos e poderemos experimentar do sabor de sermos integralmente realizados. Se os nossos netos, receberem um mundo melhor é sinal que nós e nossos filhos fizemos a lição de casa, mas caberá a eles fazerem a parte deles, ou por tudo à perder, afinal cada um é livre para escolher a vida deseja ter. Essa sempre foi a base das relações sociais.
Deixemos aos políticos de plantão falar das mazelas dos governantes que pretendem substituir e com os quais jantarão uma semana após o pleito pois eles mesmos verão suas platéias minguando e seus argumentos sendo sepultados com os esqueletos do velho mundo, arquétipos formados inclusive pela grande mídia. Até lá que esta última continue emitindo mais sinais digitais de malevolência e deboche frente a tristeza humana, alternando piada, esporte e desprezo, afinal é um direito deles, porem nossos receptores estarão sintonizados no que exalta a realidade tangível, porque esse é o nosso direito. Se os índices de audiência continuarem a ser medidos da forma como são, querendo nos empurrar goela abaixo a mentira que diz que na média somos todos ignorantes e insensíveis, que o façam. Da nossa parte nem tomaremos conhecimento deles.
Todos querem viver melhor, então paremos de resmungar e façamos coisas positivas. É certo que as entidades assistenciais sérias precisam sobreviver com a ajuda de um batalhão de pessoas, mas que sejam dirigidas sob esse enfoque. Estou certo de que nossos asilos se encherão de pessoas sensíveis para ouvir nossos idosos falarem de suas experiências, nossas creches e abrigos se tornarão centros de alegria que a todos contagiaria. À porta de nossas clinicas, hospitais, escolas e mais um sem numero de unidades acorrerão empresas e organismos que desejarão participar desta lufada de ar novo, de luz e solidariedade!
Em pouco tempo, estas ações alcançarão governos e políticos e nós nos prepararemos para ir diminuindo o nosso tamanho, até desaparecermos por completo, afinal de contas a Terra dos Sonhos não precisará de nós pois terá educação, justiça, fraternidade e amor. Será chegada a época em que todas as pessoas, em todos os âmbitos de suas relações, serão conscienciosas, aptas e felizes. Ninguém mais precisará lembrar ou exigir o seu direito, muito menos o direito publico que o precede. A justiça na acepção maior do vernáculo dirigirá a todos e liderará os povos multiplicadores do bom senso.
Precisamos pensar em como ocuparemos nosso tempo quando isso acontecer, ou talvez saibamos já hoje, afinal doamos nosso tempo, dedicação e profissionalismo e não ganhamos nem um centavo por isso pois sempre vimos que a satisfação dos nossos beneficiários é o melhor pagamento.
Alguns dirão que Alice, ou mesmo o gato do país das maravilhas se sairia melhor, outros nos chamarão de inocentes, idealistas, utópicos, Zaratrustas tardios, mas nada disso nos importa, como nunca nos importou, porque como diz o mascote da nossa entidade: “Sempre vale a pena lutar por ideais nobres e verdadeiros. Pode ser sonho para muitos, mas é realidade para nós!!!” e nenhuma mudança significativa jamais ocorreu no mundo sem uma dose extrema de idealismo e coragem. Viva a Terra dos Sonhos !!!

Um abraço fraternal a todos
Alcy Paiva

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço o seu comentário. Faça-o com a maior liberdade e honestidade possível.